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Velhos tempos, belos dias

Chico da Adalgisa, músico.


Quando eu tinha aí por volta de 10 anos, havia perto de nossa casa um salão no qual uma banda – ou conjunto, como se chamava na época, começo da década de 1970 – se reunia semanalmente para ensaiar seu repertório.

Os músicos fechavam as portas do salão, mas eu, como menino curioso, conseguia entrar e acompanhar o ensaio de perto.

Eles tocavam basicamente os lançamentos da Jovem Guarda – Roberto Carlos, José Roberto, Ronnie Von, Odair José, Erasmo, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Os Incríveis e outros artistas que estavam nas paradas de sucesso.

O conjunto era modesto, sendo composto por bateria, contrabaixo, guitarra-solo, guitarra-base e saxofone, além do cantor.

Digo modesto na concepção de hoje – quando as bandas exageram na parafernália que as acompanham.

Os músicos que mais me impressionavam naquele grupo eram o guitarrista e o baterista.

Lembro que pegavam as músicas de ouvido, rodando o disco em uma pequena radiola e repetindo as passagens mais difíceis.

Todos jovens, na faixa dos 20 anos.

Aula de violão

Algum tempo depois, quando eu tinha de 13 para 14 anos, entendi de aprender a tocar violão.

De imediato, recebi o incentivo de meu pai, violeiro e repentista. Ele me presenteou com o instrumento e me levou ao professor de violão.

O professor era o guitarrista da banda, aquele que fazia os mais espetaculares solos, reproduzindo fielmente os sons dos discos.

Primeiro emprego

Nas aulas de violão, não demorei a aprender as notas, a entender a linguagem dos acordes e a tocar as primeiras músicas, em lições pacientemente repassadas pelo professor.

Mais adiante, eu já me aventurava a dar uma canja durante os bailes, tocando duas ou três músicas na guitarra.

E deu-se que o meu professor acabou me levando para a banda dele como guitarrista-base, aquele responsável pela harmonia.

Era uma novidade um garoto de 15 anos tocando guitarra profissionalmente.

Nossa banda – Os Vibrantes – tocava todo fim de semana em Água Branca e nas cidades vizinhas.

Viajávamos em duas surradas Veraneios – uma com os instrumentos e o gerador e a outra com os músicos. O proprietário do conjunto era o saxofonista Pedro Marreca, famoso na região.

Antes de completar 16 anos mudei-me para Teresina, para dar continuidade aos meus estudos, e a profissão de músico ficou para trás.

(Reproduzido /www.facebook.com/ermitamacedo.macedo)

Mestre e amigo

O meu professor de violão tornou-se, no entanto, um amigo da vida inteira. Uma amizade que transferiu para minha família, sobretudo para os irmãos mais novos, Humberto e Cleidimar.

Naquele período em que tocamos juntos, além de me iniciar na música e me oferecer o primeiro emprego, cuidava de mim como um irmão mais velho. E ele era apenas um jovem de 20 e poucos anos – 7 a mais do que eu.

Já morando em Teresina, sempre ia visitá-lo. Andava mais na casa dele do que nas de meus parentes.

Uma referência como músico na cidade e, ao mesmo tempo, uma das pessoas mais sem ambição que conheci. Sua ambição era apenas a da busca do acorde perfeito. Autodidata, tocava com a mesma desenvoltura violão, guitarra e teclado. Só aí perdia a timidez, uma marca de sua personalidade.

Quando já havia me afirmado na profissão de jornalista, com trânsito em muitas áreas, inclusive na artística, e sabedor de seu imenso talento, convidei-o para passar uma temporada em Teresina.

Ele não quis. Ser reconhecido em sua aldeia já era mais que suficiente.

Adeus precoce

Há uma semana, Francisco Alves de Moura, o Chico da Adalgisa, meu querido professor e amigo, foi encontrado sem vida, em sua casa, onde morava só e com muita simplicidade, já enfrentando problemas decorrentes da hipertensão.

Despediu-se da vida inesperadamente aos 68 anos.

Ontem (19/08), seus parentes e amigos se reuniram na Celebração da Esperança, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Água Branca, e se uniram em orações para que sua alma descanse em paz.

Para os que, como eu, tiveram o privilégio de sua amizade sincera e de sua companhia em muitos dos mais alegres momentos da vida, ficam a gratidão e as boas lembranças dos velhos tempos e dos belos dias.

2 Comments

  1. Francisco Alves de Moura Junior disse:

    Obrigado pelo carinho e respeito que sempre teve pelo meu pai.

  2. Ricardo Macedo disse:

    Obrigado pela atenção e carinho que sempre teve com meu pai. Neste momento o céu celebra de alegria com a chegada do nosso Chico da Adalgisa.

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