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17 de fevereiro de 2024
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Seu Albuquerque, o filme

O diretor AJosé Fontinelle apresenta o filme.

Quando trabalhei na TV Clube, entre 1988 e 1993, como editor-chefe do Bom Dia Piauí, tive o privilégio de conviver com profissionais que participaram dos anos iniciais da televisão no Piauí.

Por lá ouvi muitas e variadas histórias sobre a luta incansável do professor Valter Alencar para inaugurar o primeiro canal de TV do Estado, em 1972. Uma epopeia.

Em meio a essas conversas, aparecia sempre o nome do radiotécnico Albuquerque, com a força de uma lenda viva, uma vez que fora ele o responsável pela parte técnica da instalação da TV. Isso numa época de um Piauí atrasado em tudo.

O primeiro diretor técnico da televisão havia saído da casa quatro anos antes de minha chegada à empresa. Estava dedicado aos seus próprios negócios. Mas, pelos relatos que eu ouvia sobre ele, não tive dificuldade em concluir que seu nome estava definitivamente inscrito na história da televisão piauiense.

Fazendo uma analogia com a construção de Brasília, inaugurada por JK, Albuquerque era o Oscar Niemeyer do Dr. Valter.

Nas ondas do rádio

Em resumo, a história de Raimundo Nonato de Albuquerque é a seguinte: ele nasceu em São Bernardo, Maranhão, em 1937. Ainda garoto, atravessou o rio Parnaíba e mudou-se para Luzilândia, para trabalhar na farmácia de um parente.

Estava gostando do emprego. Imediatamente, aprendeu a aplicar injeção. Para enfrentar a monotonia da pequena cidade, passava o dia com um rádio a pilha ligado, no local de trabalho.

O garoto ficava maravilhado. Admirava-se como podiam sair tantas vozes e músicas do pequeno aparelho. Um dia, o rádio pifou.

Mandado para o conserto em Parnaíba, o aparelho ficou por lá quase um mês. Curioso, o garoto decidiu desvendar os mistérios que existiam dentro daquele rádio.

Fez um curso de radiotécnico por correspondência e decidiu que iria mudar de profissão.

Andou por Fortaleza, São Luís, Rio de Janeiro e São Paulo. Participou da inauguração de Brasília, em 1960, ajudando na transmissão radiofônica do evento.

Tinha futuro na profissão, nos grandes centros do Brasil, porém uma tragédia o obrigou a se mudar para Teresina, onde fixou residência e montou uma pequena oficina.

Medo dos militares

Quando o golpe de 1964 varreu o país, Albuquerque se assombrou. Ele guardava lembranças da infância, vivida no interior do Maranhão, sobre jovens que eram recrutados à força para lutarem nos campos de batalha da Itália, durante a II Guerra Mundial.

Em 64, Albuquerque nada tinha a ver com o peixe, ou melhor, com os militares, mas meteu na cabeça que os radiotécnicos seriam alvos deles, pois lidavam com coisas muito sensíveis ao poder. E mandou-se com a mulher para o seu interior, em busca de refúgio.

Só retornou para Teresina quando seu primeiro filho estava prestes a nascer. Tudo correu em paz, porém o medo de ser preso não passou.

O que passou foi o tempo e, mais adiante, Albuquerque conheceu casualmente o professor Valter Alencar, dono da Rádio Clube de Teresina.

Imediatamente, foi convidado pelo professor para cuidar do projeto da TV. Ainda tentou se esquivar, dizendo que nada sabia de televisão. O professor Valter respondeu simplesmente: “Nem eu”.

O filme

A saga de Raimundo Nonato Albuquerque está sendo contada no filme “Seu Albuquerque e outras histórias das telecomunicações no Piauí”, lançado em três sessões, realizadas quinta (18/04), sexta (19) e sábado (20), no Cineteatro do Sesc Cajuína.

Ao longo do documentário, são contadas histórias carregadas de sentimentos e emoções.

Dirigido por Ajosé Fontinelle, o documentário foi produzido pela 1150 Produções e tem narração de João Cláudio Moreno.

Albuquerque acompanhou as três exibições ao lado de parentes, amigos e convidados.

O filme apresenta uma narrativa envolvente que resgata não apenas a história de um homem simples do interior, mas também momentos marcantes da televisão no Piauí.

Trata-se de uma justa homenagem a um profissional que contribuiu significativamente para o desenvolvimento das telecomunicações na região e a um cidadão exemplar.

Neste momento de falta de referência em tantas áreas, sua inspiradora história, tão bem contada no filme, apresenta-se como uma trajetória que deve ser conhecida por muitos, sobretudo pelos mais jovens.

É, afinal, uma história que inspira com ricas lições sobre superação, profissionalismo, lealdade, empreendedorismo, humildade, empatia, família e fé. Enfim, com ricas lições de vida.

Albuquerque em cena no filme sobre sua vida

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