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Um reencontro mais de 30 anos depois

A primeira vez que ouvi falar em Literatura Piauiense foi em 1979. Eu tinha aí de 16 para 17 anos.

No ano anterior, havia me mudado para Teresina, a fim de dar continuidade aos meus estudos, iniciados em Água Branca.

Quando aqui cheguei, com o antigo ginásio concluído, conhecia um poema ou outro de Da Costa e Silva, mas não tinha a menor noção de que ele fosse piauiense.

Foi na Escola Técnica Federal do Piauí, hoje IFPI, já cursando Edificações, no correspondente hoje ao segundo ano do Ensino Médio, que tive o primeiro contato com um livro de autor piauiense.

Era um livrinho de capa amarela, com menos de 100 páginas, recém-lançado pela também recém-criada Editora Corisco.

Seu título: Literatura Piauiense. Autores: Carlos Evandro, Cineas Santos e Herculano Moraes.  

O livro, recomendado pela nossa professora de português, Auri Lessa, trazia estudos desses autores, de forma breve, sobre seis escritores piauienses: Da Costa e Silva, Álvaro Pacheco, H. Dobal, Fontes Ibiapina, Assis Brasil e O.G. Rego de Carvalho.

O livro sumiu

Passei uns dez anos com este livro, que alguém me tomou de empréstimo e esqueceu de devolver, sem atentar para o valor sentimental que ele representava para mim.

Naturalmente, que, de lá para cá, seu conteúdo foi suprido por outras leituras, mas sempre quis ter aquele livrinho por perto, pelo que ele representava em minha iniciação como leitor de autores piauienses.

Como na clássica propaganda do genial Washington Olivetto, o primeiro livro a gente nunca esquece.

O livro voltou

Eu contava esta história outro dia na Academia Piauiense de Letras, em uma roda de escritores à qual se fazia presente o professor e acadêmico Carlos Evandro.

Ele se adiantou:

– Eu tenho dois exemplares desse livro. Vou lhe dar um.

A promessa foi cumprida logo em seguida e, assim, mais de 30 anos depois, o livro que tanto me impressionou na juventude voltava às minhas mãos.

Folheando novamente a publicação, vejo que o livro se destinava aos candidatos ao vestibular de 1979 da UFPI, que, naquele ano, adotava os autores já citados.

Pena de morte

Há mais de dez anos, com a implantação do SISU, as universidades públicas do Piauí sepultaram os escritores piauienses – mortos e vivos.

Por quê? Porque dá menos trabalho e mais dinheiro. Tudo já vem pronto do MEC.

Mas, a partir deste ano, o IFPI “desafina o coro dos contentes” e cai fora do SISU. Está retomando o vestibular tradicional como meio de acesso aos seus cursos superiores.

As vagas do IFPI estão entre as mais procuradas. No SISU 2022, o instituto recebeu mais de 13 mil inscrições. A concorrência por vaga ficou em quase 6 por cento.

O instituto funciona em uma rede de três campi em Teresina e mais 18 em municípios do interior.

A volta da Literatura Piauiense

Na semana passada, representando a Academia Piauiense de Letras, eu e o acadêmico Elmar Carvalho fomos cumprimentar o reitor do IFPI, professor Paulo Borges da Cunha, pela decisão.

Ele nos informou que, a partir do ano que vem, o vestibular da instituição voltará a cobrar conhecimentos sobre autores piauienses.

Isso obriga as escolas secundárias a voltarem a oferecer a disciplina Literatura Piauiense aos seus alunos.

Quando, no meio da conversa com o reitor, lhe contei a história do meu primeiro livro de Literatura Piauiense, ele me pediu que eu a passasse para frente, o que estou fazendo agora.

E com um adendo: por uma estranha ironia, uma escola de ensino tecnológico foi justamente a primeira que me falou de Literatura Piauiense.

Pois é!

Naquela época, jamais passaria pela minha cabeça que, algum dia, viesse a me tornar escritor.

Muito menos que viesse a presidir a Academia Piauiense de Letras e ainda que, nesta condição, viesse a encabeçar uma campanha pelo ensino de Literatura Piauiense.

Meus agradecimentos ao IFPI, a minha velha e sempre querida Escola Técnica, por me abrir as portas para a Literatura Piauiense.

Agradeço, de igual modo, ao estimado professor e confrade Carlos Evandro, pelo inimaginável reencontro com meu primeiro livro de Literatura Piauiense.

O seu gesto de me presentar com um dos dois exemplares que guardava como relíquia me proporcionou alegria e emoção.

Viva a Literatura Piauiense!

A capa de meu primeiro livro de Literatura Piauiense.

2 Comments

  1. Paulo Moura disse:

    Uma bela e inspiradora história. As coincidências, que Jung chamaria sincronicidade, e eu chamo destino, sempre sinalizam o nosso propósito na vida. Na economia do Universo, nada se perde: transforma-se. A propósito, a ilustração da capa do livro editado pela Corisco é do Nonato Oliveira, salvo engano.

  2. Meu amigo, também estudei na antiga Escola Técnica Federal do Piauí e igualmente cursei Edificações nos idos de 1992 a 1996.

    Quero ressaltar o aspecto cultural de que se revestia a nossa querida ETEFPI em todos os seus cursos, inevitavelmente por conta da enorme qualidade de seu corpo docente, que contava, já naquela época, com diversos Doutores em seus quadros.

    Eu mesmo, com apenas quatorze anos, fui aluno de dois brilhantes doutores etefpianos: Dr. Valdomiro na disciplina de Língua Portuguesa, e Dr. Ricardo Freitas na disciplina de OSPB.

    Aquele primeiro contato com gente tão inteligente e letrada mudara para sempre a minha vida e visão de mundo.

    E cá estamos!

    Grande abraço!

    Paz e bem!

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