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TV Clube, 50 anos

A TV Clube comemorou ontem (3/12) o seu 50º aniversário em grande estilo, com direito a um Globo Repórter Especial na sexta-feira passada para documentar e celebrar a efeméride.

O primeiro canal de televisão do Piauí nasceu da obstinação do professor e advogado Valter Alencar, que penou por dez anos para colocar a emissora no ar.

“A força de um ideal”, o slogan da TV Clube, divulgado sistematicamente em seus anos iniciais, exprime bem a determinação do professor Valter Alencar para fundar, instalar e inaugurar o canal pioneiro de televisão do Piauí.

Em uma época em que tudo no Estado era ainda muito mais difícil, ele liderou um movimento pela realização de seu sonho.

A dificuldade maior era porque, em um meio atrasado, ele queria trazer para o Piauí algo grandioso que pouca gente sabia o que era.

Mas isso não era uma exclusividade dos piauienses. Quando a primeira estação de TV foi inaugurada no Rio de Janeiro pelo magnata Assis Chateaubriand, em 1950, por lá também quase ninguém sabia do que se tratava.

A campanha pela TV

Dinheiro o Dr. Valter não tinha para sua visionária empreitada. Ele conseguiu a realização de tal proeza empenhando o seu maior patrimônio – a credibilidade.

Durante a jornada, muitos se juntaram ao professor Valter, entre eles o radiotécnico Raimundo Albuquerque, que, já na fase de instalação, cuidou da parte técnica da emissora.

O governador Alberto Silva, outro piauiense de espírito empreendedor, deu todo apoio à instalação da primeira emissora de TV do Piauí. Fez tudo o que estava ao seu alcance para dotar o Estado dessa novidade tecnológica.  

Para se ter uma ideia da grandiosidade do projeto, a segunda emissora de televisão do Piauí (TV Pioneira, hoje TV Cidade Verde) só foi inaugurada 14 anos depois, através de um pool de grandes empresários.

E sucedeu que o Dr. Valter despendeu tanta energia na construção de seu ideal que a luta renhida pela TV acabou por lhe tirar a saúde.

A TV Clube foi inaugurada em 3 de dezembro de 1972 e, em 25 de janeiro de 1975, quando a emissora ainda engatinhava, o Dr. Valter faleceu.

Daí para frente, o sonho foi tocado pelos seus filhos Segisnando Alencar, Valter Alencar Filho e Teresa.

E eles deram grandeza ao projeto, inclusive tornando emissora afiliada da Rede Globo, a partir de 1976.

Uma escola de comunicação  

Tive o privilégio de trabalhar na TV Clube por quase 5 anos, a partir de 1988. Fui repórter político e editor-chefe do Bom Dia Piauí.

Cheguei lá sem saber absolutamente nada de televisão, a convite do jornalista Carlos Augusto de Araújo Lima, que reassumia a direção de jornalismo.

Para os que, como eu, tiveram a oportunidade de integrar a equipe da emissora, a TV Clube foi, antes de tudo, para todos nós, uma escola de comunicação.

Como repórter da TV, entrevistei grandes personalidades da época que visitavam o Piauí.

Da política, entrevistei, entre outros, Ulysses Guimarães, Orestes Quércia, Mário Covas, Arthur da Távola, Leonel Brizola, Lula, Luís Carlos Prestes e Sarney.

Do mundo intelectual, Antônio Houaiss e Afrânio Coutinho, da Academia Brasileira de Letras.

Também Dom Luciano Nunes de Almeida, presidente da CNBB, e dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo.

Um fato pitoresco

Quando fui editor do programa Bom Dia Piauí, participava das entrevistas políticas ora com Carlos Augusto, ora com Deoclécio Dantas e ora ainda com Claudia Brandão, com estes na apresentação.

Uma vez, Carlos Augusto e eu sentamos para entrevistar o governador Alberto Silva, que estava em seu segundo mandato.

Numa sala, ao lado do estúdio, aguardava para ser entrevistado no bloco seguinte o ex-deputado federal Freitas Neto, que havia perdido a eleição de governador para Alberto, mas não havia perdido o sonho de um dia ocupar o Palácio de Karnak.

Alberto Silva soube que seria entrevistado no primeiro bloco e que, no segundo, seria Freitas Neto.

Já no ar, ele não deu a menor bola para a primeira pergunta que lhe foi formulada e deitou a falar sobre o que lhe interessava, no caso as obras do governo, que na época eram o pré-metrô, a Poticabana e o “navio do sal”.

Não era uma entrevista, propriamente. Era um monólogo. Quando falou uns 15 minutos (o programa tinha meia hora de duração), o governador notou que o apresentador estava aflito para chamar os comerciais.

Aí lhe devolveu a palavra: “Eu sei que vocês precisam chamar os comerciais. Chamem e eu concluo meu pensamento no próximo bloco”.

Assim foi feito. Alberto não saiu da cadeira, não deu vez para que seu opositor fosse entrevistado.

Freitas Neto, que acompanhava tudo na outra sala, apenas riu e ficou combinado que ele seria entrevistado no dia seguinte.

Algum tempo depois, Freitas estaria sentado na cadeira de Alberto Silva lá no Karnak.

Furo no JN

Lembro, ainda, por exemplo, que, depois de eleito, o presidente Fernando Collor fez uma viagem ao exterior.

Da comitiva dele, o primeiro que voltou para o Brasil foi o então deputado federal Renan Calheiros, líder do PRN no Congresso.

O PRN era o partido do novo presidente, que tomaria posse em 15 de março de 1990.

No Brasil, como de praxe, eram muitas as especulações sobre a formação do ministério e as primeiras medidas do novo governo.

Renan Calheiros veio do exterior direto para Teresina, a convite do empresário piauiense Zezinho Moraes, que morava no Rio e era seu amigo.

Se não me engano, chegaram em jato particular, juntamente com o deputado estadual Cleto Falcão, de Alagoas, também do time de Collor.

Renan veio para o Piauí em 12 de janeiro de 1990, uma sexta-feira, para assistir à posse da nova secretária de Cultura, Susana Silva, filha do governador Alberto Silva (PMDB), que apoiou Collor desde o primeiro turno da eleição presidencial.

Entrevistei Renan Calheiros logo após o seu desembarque no aeroporto de Teresina.

Mandei a entrevista para o Correio Braziliense, do qual era correspondente, e a TV Clube mandou para a Rede Globo.

A entrevista mereceu 5 minutos do Jornal Nacional, um tempo excepcional. Dávamos, afinal, um grande furo.

Por isso, também, estou entre os que aplaudem os 50 anos da TV Clube, com votos de renovado sucesso e de que sua caminhada seja longa!

Gravação de “passagem” na frente da residência oficial do governador Alberto Silva (1990)
Nos estúdios do “Bom Dia, Piauí”, com Deoclécio Dantas e Carlos Augusto (1989)

2 Comments

  1. Augusto Basílio disse:

    Parabéns pelo registro histórico grande amigo

  2. Abraão Silva disse:

    Que belas histórias querido Zózimo.

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