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Música no ar, amor no coração

Na metade da década de 30 do século passado, a família do juiz João Silva recebia em sua casa, na fazenda Paraíso, na Ilha Grande de Santa Isabel, a visita de um amigo que se fazia acompanhar de uma filha. Era uma mocinha loira que contava de 13 para 14 anos, olhos da cor do mar, já com porte de mulher elegante.

Os anfitriões, João Silva e Evangelina, a Dona Vangi, receberam o amigo e a filha com alegria, e procuraram expressar tal contentamento ordenando ao filho músico, então com 17 anos, que tocasse piano para as visitas.

Em instantes, os corações dos dois adolescentes começaram a entrar em sintonia. Amor à primeira vista. Ou à primeira música.

Em pouco tempo, porém, ele foi embora para Minas Gerais, a fim de dar prosseguimento aos seus estudos. Ela ficava em sua terra natal, Parnaíba.

O reencontro

O tempo correu e os dois jovens só voltaram a se reencontrar anos depois, com o rapaz já recém-formado em engenharia. Foi em uma missa, na Catedral de Nossa Senhora das Graças, em Parnaíba.

A moça, então com 19 anos, a mais nova de uma família de cinco irmãos, havia encantado a cidade há pouco tempo, como miss estudantil, e encantava os fiéis ao piano, na missa de domingo.

O jovem engenheiro ficou particularmente fascinado pela moça que tocava piano, quatro anos mais nova que ele.

Com a mãozinha de uma prima mais desenvolta, Luzia Teresa, amiga comum, cuidou de se aproximar da pretendida. Formulou um convite para que ela o visitasse na Ilha Grande. Ela aceitou. Logo se tornaram namorados e noivaram.

O casamento foi celebrado na Igreja de Nossa Senhora da Paz, no Bairro Ipanema, no Rio, em 28 de outubro de 1943, Dia de São Judas Tadeu.

Uma história de amor

Esta é, em resumo, o primeiro capítulo da história de amor protagonizada por Alberto Silva e Florisa, que começou a ser escrita quando eles ainda eram adolescentes e se prolongou por 66 anos de casamento, do qual lhes nasceram oito filhos.

Alberto faleceu em 2009, em Brasília, aos 92 anos, depois de inscrever seu nome na história como o maior governador que o Piauí já teve.

Dona Florisa faleceu ontem (07/05), em Parnaíba, de causas naturais, aos 100 anos de idade. Ela viveu seus últimos anos, desde a viuvez, sob os cuidados e afetos da filha Susana, que se dedicou inteiramente à mãe.

Cuidando dos pobres

No começo da década de 1970, quando o engenheiro Alberto Silva assumiu o seu primeiro mandato de governador do Piauí, a população urbana do Estado representava cerca de 40% da população total.

As cidades começavam a inchar, recebendo grandes levas de famílias que chegavam aos centros urbanos sem uma qualificação profissional.

O Serviço Social do Estado (Serse), dirigido pela primeira-dama Florisa Silva, voltou-se, então, para o desenvolvimento de programas de promoção humana.

Por meio da Organização do Lar (Orlar), em parceria com a Liga das Senhoras Católicas, presidida por Belisa Baião, foram realizados cursos de capacitação profissional de mulheres, formando milhares de costureiras, bordadeiras, alfaiates e datilógrafas.

À época, havia uma grande procura por profissionais com mão-de-obra qualificada nessas áreas.

Lavanderia comunitária

Em Teresina, o Centro-Materno-Infantil e Nutricional desenvolveu importantes atividades de promoção das lavadeiras. É dessa época, por exemplo, a primeira lavanderia comunitária da cidade, ainda em funcionamento na Avenida Higino Cunha, no Bairro Ilhotas, em frente ao Quartel da PM.

Anos mais tarde, o prefeito Wall Ferraz mandou construir lavandeiras comunitárias em outros pontos de Teresina, inspirado nesse primeiro exemplo do Governo do Estado. Todas estão em pleno funcionamento.

Incentivo ao artesanato

O Serse também treinava mão de obra e fornecia material para o desenvolvimento e a revitalização do artesanato piauiense, além de conceder bolsas de estudo a estudantes pobres do Estado.

Todas essas ações tinham em vista a execução de uma política pública muito badalada nos dias de hoje, mas pouco praticada pelos governantes – a geração de renda para as famílias pobres.

Dona Florisa comandou a área da ação social do governo com discrição, mas com muito trabalho, levando muitos serviços do Estado para as famílias que precisavam mais.

Uma estrela

Em 1991, quando comecei as pesquisas para a biografia do engenheiro Alberto Silva, finalmente publicada em 2018, na passagem do centenário do seu nascimento, ele me deu este depoimento gravado sobre a esposa:

“Durante muitos anos, fui engenheiro da estrada de ferro, morando no Rio de Janeiro. Nesse período, foi quando eu me casei, com uma moça de Parnaíba que, na verdade, foi a minha estrela, o meu suporte, o meu sustentáculo, o meu anjo da guarda a vida inteira. Mulher de família de Parnaíba mesmo, muito séria, muito trabalhadora, prendada, professora diplomada, sempre tirou o primeiro lugar na Escola Normal de Parnaíba, também professora de piano. Enfim, duas pessoas que cultivavam a arte, ela e eu. E nos demos muito bem até os dias de hoje, graças a Deus!”

Assim foi Dona Florisa, a grande mulher de quem o Piauí se despede hoje.

(Com informações do livro “Alberto Silva – uma biografia”)

Dona Florisa com Alberto Silva, em foto do início do primeiro governo (1971-1975)
Com o Papa Paulo VI
Miss Estudantil de Parnaíba
Da época do segundo mandato do governador Alberto Silva (1987-1991)
Em foto de 2018, em sua casa, na Ilha Grande de Santa Isabel.

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