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Cazé e o concurso do rei

Reunião da Academia de Letras de Pastos Bons, em 2019/Foto: Zózimo Tavares

O jornalista Raimundo Cazé, que nos deixou no dia 26 de abril, aos 77 anos, era um incansável declamador de poemas populares e também um animado contador de piadas e de histórias, estas sempre com uma pitada de humor.

Foi o Cazé que me apresentou ao poeta Hermes Vieira, grande nome da poesia popular piauiense, ao lado de Hermínio Castelo Branco, Firmino Teixeira do Amaral e Domingos Fonseca.

O poeta Hermes Vieira, já idoso, morava em uma quinta no bairro Macaúba, zona Sul de Teresina.

Cazé chegou a gravar um CD declamando versos de Zé da Prata, tirados de um livro que publiquei em 1995 sobre o poeta altoense, intitulado “Zé da Prata, poeta da sátira”.

As piadas contadas pelo Cazé, mesmo que já fossem velhas, ganhavam graça. Ele sabia dar-lhes um toque de humor. Umas vezes, era rindo muito antes de contá-las. Outras, caindo na gargalhada antes de concluí-las. E a gente ria dele.

Café da manhã

Nas reuniões da Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons ficávamos hospedados na pousada de Dona Aleluia, modesta, mas aprazível e de comida boa e farta.

Uma noite, estávamos jogando conversa fora após o jantar. O Cazé saiu com mais uma da suas. Contou que um rei promoveu um concurso inusitado. Era para a escolha das fezes mais bonitas do seu reinado.

Apareceram muitos candidatos. Uns engoliram flores, outros perfumes, para vencer o concurso. Houve também quem só comesse vegetais.

O certo é que o vencedor foi um súdito que comeu apenas abóbora, muita abóbora.

Outras histórias e piadas foram contadas na roda, composta pelo professor Celso Barros, João Renôr, Herculano Moraes, Fonseca Neto, Cazé e eu, além de membros da Academia residentes em Pastos Bons.

Fomos dormir e a piada do concurso do rei se perdeu no meio das outras. Foi esquecida, naturalmente.

No dia seguinte, sentamos todos à mesa do café e começamos a nos servir. Como já disse, na pousada a mesa é farta já a partir do café da manhã. Um café sertanejo para ninguém botar defeito.

O Cazé, maranhense da gema, dispensou caldo de carne, leite, cuscuz, carne assada, bolos, ovos fritos, frutas (melancia, mamão, banana etc), e preferiu caminhar para cima de uma bacia de abóbora cozida. E repetiu o prato.

O professor Celso Barros, sempre atento e espirituoso, brincou, para gargalhada de todos nós, inclusive do Cazé:

– Ô Cazé, você está se preparando para o Concurso do Rei?

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