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Cazé e a casa de Dona Noca

Dona Noca, ao centro, de chapéu, com sua gente e sua inseparável espingarda/Foto: Reprodução de "O Pilão da Madrugada".

Joana da Rocha Santos. Citada assim, pelo seu nome de batismo, pouca gente de fora de sua aldeia sabe de quem se trata. Foi, afinal, com o nome de Dona Noca, como era conhecida, que ela se tornou uma lenda. Uma lenda dos sertões do Sul do Maranhão que ganhou o Brasil.

Nascida em 1892, Dona Noca foi a primeira prefeita de São João dos Patos. Mais que isso: a primeira prefeita do Maranhão. Mais ainda: a primeira prefeita do Brasil.

Ela foi nomeada prefeita de sua terra natal em 1934 pelo delegado do governo federal no Maranhão, em plena Era Vargas. Mas voltou ao cargo pelas mãos do povo, pelo voto direto, para mais três mandatos. No total, exerceu o cargo de prefeita por 21 anos.

Abrindo caminhos 

Dona Noca não apenas abriu caminhos para a participação feminina na política, em uma época em que tudo era negado à mulher.

Ela abriu também as estradas que ligam São João dos Patos às cidades de Barão de Grajaú, Passagem Franca, Buriti Bravo, Pastos Bons, Nova Iorque e Paraibano.

Também construiu escola, o mercado público e instalou a energia elétrica no município.

E criou a “Caixa dos Pobres”, obra social destinada ao aprendizado de carpintaria, tecelagem, costura, bordado, alfaiataria e outros.

São João dos Patos é conhecida como a “Cidade dos Bordados”.

Não parou aí: Dona Noca exerceu ainda as funções de delegada, promotora pública e juíza de paz.

Outra particularidade: tinha uma personalidade forte, era mandona e não tinha medo de homem. Nem de bala nem de nada.

O jornalista maranhense Neiva Moreira (1917-2012), seu afilhado, assim a descreveu no livro “O Pilão da Madrugada: “Foi a mulher mais dominadora e decidida que conheci”

A história de Dona Noca inspirou a minissérie “Dona Felinta Cardoso – A Rainha do Agreste”, de autoria do jornalista e poeta Ferreira Gullar, exibida pela Rede Globo, em dois episódios, no final da década de 1970.

Pastos Bons

Conheci algumas histórias de Dona Noca através do jornalista Raimundo Cazé, que nasceu em Nova Iorque, em 1943, e viveu entre sua terra natal e São João dos Patos até se mudar para Teresina, no início da década de 1960.

Ele nos falava sobre ela, primeiro, nas redações. Depois, nas frequentes viagens a Pastos Bons, berço natal do professor Celso Barros Coelho.

Aos 85 anos, mas com o espírito de um jovem, o Dr. Celso – que esta semana entrou na casa dos 100 – criou e instalou em sua terra uma academia de letras, numa espécie de retorno espiritual às suas raízes.

Convidou para integrá-la um grupo de devotados admiradores que o cercava em Teresina: Herculano Moraes, Fonseca Neto, João Renôr, Cazé e eu. Outros foram se somando ao grupo.

Na Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons nos juntamos a intelectuais da terra residentes na cidade e também em Balsas, Imperatriz, São Luís e outros municípios maranhenses.

Pelo menos duas vezes ao ano vamos às reuniões da academia em sua sede. O único ano que passou em branco foi o de 2020, por causa da pandemia.

Nessas viagens, quando íamos com Herculano Moraes, uma parada obrigatória em Floriano, para ele visitar a mãe dele. Uma bela e octogenária índia.

Mais outra parada em São João dos Patos, quando era com o Cazé, para este visitar a mãe dele. Uma bela e nonagenária sertaneja que morava com uma filha dela.

Na sala da história

Em uma dessas viagens, logo nas primeiras, em 2005 ou 2006, o Cazé nos levou – a mim e ao professor Fonseca – à casa de Dona Noca, falecida em Floriano, em 1970. Essa casa produziu e abrigou muitas histórias.  

Foi uma visita providencial, pois a residência foi desnecessariamente destruída tempos depois. Quando a visitamos era a sede da Prefeitura.

Em seu livro “O Pilão da Madrugada”, lançado em 1989, Neiva Moreira reclamava: “Dona Noca ainda está à espera de seu biógrafo”.

Estava. O historiador, professor e acadêmico Fonseca Neto dá os últimos retoques na biografia da ex-prefeita.

Destruíram a casa de Dona Noca, mas não a sua história, que se mantém de pé e será contada nessa aguardada biografia a ser publicada até o final deste ano.

Trarei outras lembranças do Cazé, que nos deixou em 26 de abril.

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