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Landim e o discurso que mudou a história

Ex-deputado Luiz Gonzaga Paes Landim

Reta final da eleição para governador do Piauí, em 1986. O deputado federal Freitas Neto (PDS) e o senador Alberto Silva disputam o governo palmo a palmo, voto a voto.

O primeiro concorria pelo esquema governista e o segundo pela oposição, Era a mais acirrada disputa eleitoral da história recente do Piauí.

Na última semana da campanha – se não me falha a memória, no último comício, no bairro Vermelha, em Teresina – um golpe fatal na candidatura de Freitas Neto.

No palanque da oposição, com eleitores se acotovelando até pelas ruas laterais para ouvir os candidatos, uma voz vibrante invade a praça:

– Só não muda quem se demite do direito de pensar!

Era o deputado estadual Luiz Gonzaga Paes Landim, do PDS, que, repetindo a célebre frase do senador Petrônio Portella, acabava de anunciar a sua adesão à candidatura oposicionista.

Seu discurso incendiou a multidão e deu gás à oposição, que saiu do comício com a certeza da vitória, que afinal aconteceu.

Alberto Silva conseguiu 440.218 votos (49,55% do total) e Freitas Neto obteve 425.490 (47,89%).

Ou seja, a oposição venceu o pleito com apenas 14.728 votos de maioria (1,6% da votação), no universo de 888.499 votos nominais.

O autor da façanha e do discurso que ajudou a mudar o resultado da eleição e da história do Piauí morreu agora à noite, aos 80 anos, em decorrência de complicações da Covid-19.

Vida pública

Luiz Gonzaga Paes Landim nasceu em 31 de maio, em São João do Piauí. Era jornalista, advogado e professor. Formou-se em Direito pela Faculdade Católica de Santos, no início dos anos 1960.

Seu ingresso na vida pública ocorreu no começo da década seguinte, quando integrou a equipe do professor Wall Ferraz na Secretaria de Educação, entre 1971 e 1975.

Quando Wall exerceu o primeiro mandato de prefeito de Teresina, de 1975 a 1979, foi seu chefe de Gabinete.  

Integrante de uma tradicional família política do Sul do Piauí, Luiz Gonzaga Paes Landim exerceu três mandatos de deputado estadual, a partir de 1979.

Em seu último mandato (1987 a 1991), foi sub-relator da Assembleia Estadual Constituinte. Foi lá, na cobertura dos trabalhos constituintes, que me aproximei dele.

Era um talento. Ainda jovem foi jornalista do jornal “A Tribuna de Santos”. Depois, manteve colaborações regulares nos jornais de Teresina. Também escreveu poesias.

Um gênio deslocado

Depois que abandonou as disputas eleitorais, passando a sua cadeira na Assembleia Legislativa para seu irmão Paulo Henrique Paes Landim, ele ainda voltou à vida pública ocupando cargos no Executivo.

Foi secretário do Meio Ambiente do governador Mão Santa. Mergulhou e retornou novamente como secretário de Mineração do governador Wilson Martins, de onde saiu para ocupar o cargo de superintendente da Sudene, por nomeação da presidente Dilma Rousseff.

Mesmo de pijama, acompanhava atentamente o cenário político. Conversávamos com frequência pelo telefone. Por último, ele me informou que estava escrevendo suas memórias.

Há uns dias, notei o seu silêncio. Não comentava minhas mensagens nem me mandava as dele.

Apenas no sábado à noite soube, através de seu irmão José Francisco Paes Landim, que estava internado em estado grave.

A morte dele foi anunciada esta noite, para tristeza dos que conviveram com a sua alegria contagiante e o brilho de sua inteligência.

Como resumiu o deputado federal Paes Landim, na tradução de sua dor pela perda do irmão, “era um gênio, deslocado no seu tempo e espaço”.

Que descanse em paz!

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