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FM Cultura de Teresina, o começo

Reinauguração da FM Cultura, em 3 de setembro de 2021.

Vi pela mídia local que a FM Cultura passou por uma reestruturação e foi reinaugurada na sexta-feira passada (03/09) em novo endereço, no Edifício Saraiva Center, na Rua Firmino Pires, 379, Sala 327.

Pelo que acompanhei, a Prefeitura de Teresina fez um investimento de R$ 179.521,74 na reestruturação da emissora, com recursos próprios do município.

Vi também que a rádio, renovada, está homenageando alguns profissionais de comunicação, entre eles Carlos Augusto e Deoclécio Dantas.

Os novos estúdios ganharam os nomes desses radialistas, dois ícones do rádio piauiense de todas as épocas. Dois queridos e inesquecíveis mestres.

A história da rádio

Aproveito essa reinauguração da FM Cultura para contar um pouco de sua história, que se aproxima dos 25 anos.

A emissora nasceu no terceiro e último mandato do prefeito Wall Ferraz, um governante verdadeiramente com uma sensibilidade incomum para a cultura em todas as suas expressões – literatura, música, dança, teatro, artes plásticas, etc.

Ele tomou posse em janeiro de 1993 com um amplo projeto para a área cultural. No bojo dele, a ideia de instalar uma emissora de rádio com programação voltada exclusivamente para a cultura.

Naquela época não era fácil conseguir-se a concessão de um canal. Mas era um sonho, um sonho nobre, e correu-se atrás dele com muita vontade de transformá-lo em realidade.

Eu era o seu secretário de Comunicação do prefeito.

Como Wall Ferraz queria uma rádio com viés cultural, o projeto foi entregue à Fundação Cultura Monsenhor Chaves, com o acompanhamento da Procuradoria-Geral do Município e da Secretaria Municipal de Comunicação.

Assim, toda a parte burocrática foi preparada e encaminhada pelo procurador-geral do município, Renato Bacellar, também jornalista e radialista. Uma figura excepcional.

A FCMC, sob a direção da primeira-dama Eugênia Ferraz, ficou com a responsabilidade da estruturação física e técnica da rádio e pela definição de sua programação.

A Secretaria de Comunicação ficou responsável pela articulação política objetivando a aprovação do projeto em Brasília.

Hugo, de adversário a aliado

À época, o prefeito de Teresina era o principal adversário do PFL no Piauí. Havia inclusive disputado o Governo do Estado nas eleições de 1990 enfrentando o poderoso esquema pefelista.

O senador Hugo Napoleão era a principal estrela do partido e, por coincidência, ocupava o cargo de ministro das Comunicações em 1993, no Governo Itamar Franco.

Como não havia um diálogo maior entre a Prefeitura e o ministro, procurei o jornalista João Emílio Falcão para fazer o meio de campo e tocar o projeto da rádio.

Falcão, piauiense, jornalista e escritor, era meu amigo pessoal e foi meu colega no “Correio Braziliense”, do qual fui correspondente entre 1985 e 1990.

Ele era amigo também do prefeito Wall Ferraz e do senador Hugo Napoleão. E ainda do presidente Itamar Franco, de quem recebeu convite para ser seu porta-voz.

O jornalista abraçou a ideia da rádio e, aberto o diálogo com o ministro Hugo Napoleão, o processo de concessão andou a todo vapor no Ministério das Comunicações.

Num gesto de visão larga da política, muito próprio dele, Hugo Napoleão tocou pessoalmente o projeto.

Assim, em 30 de dezembro de 1996 estava pronta a nova emissora de rádio de Teresina.

Quando a 107,9 MHz entrou no ar, com programação educativa, em sua maior parte musical, o prefeito de Teresina já não era o professor Wall Ferraz nem o ministro das Comunicações era mais Hugo Napoleão.

Wall faleceu em 22 de março de 1995 e Hugo saiu do Ministério em 31 de dezembro de 1993, mas antes de deixar o cago assinou a concessão.

Em Teresina, o prefeito Francisco Gerardo, sucessor de Wall, procurou concluir todos os projetos que estavam em andamento, inclusive o da rádio.

Cultura no ar

A emissora entrou no ar oficialmente em 1997, já no começo do primeiro mandato do prefeito Firmino Filho.

Eu continuava como secretário e indiquei o jornalista Montgomery Holanda como seu primeiro diretor.

Montgomery era um profissional tarimbado que trazia na bagagem, entre outras, a experiência de ter montado a Rádio FM Poty.

Ele foi meu subsecretário, por escolha pessoal do prefeito Wall Ferraz. Na gestão do prefeito Firmino, ele não teria espaço.

“Montim”, como o chamávamos, havia escrito um livro sobre Wall Ferraz, logo após a morte dele.

Nesse livro, ele dizia que o candidato preferido de Wall à sua sucessão seria o arquiteto João Alberto Monteiro, então presidente da Eturb e tocador de obras do município.

Prefeito melindrado

Muito jovem e imaturo, Firmino ficou melindrado com isso e ficou com o jornalista atravessado na garganta. E um dos primeiros atos dele como prefeito eleito foi escolher um substituto para o Montgomery, o jornalista Salomão Sobrinho.

Mas, modéstia à parte, eu era forte com Firmino e banquei a indicação de Montgomery para a FM Cultura, contra a vontade dele. O jornalista foi muito feliz para lá e realizou um bom trabalho como seu primeiro diretor.

Este é, em resumo, o começo da história da FM Cultura e dedico esta crônica, com muita saudade, à memória dos queridos e inesquecíveis amigos Wall, João Emílio Falcão, Montgomery e Firmino!

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