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28 de março de 2025A família, os colegas e os amigos se despediram hoje (27/03) do repórter fotográfico Wagner Santos, que faleceu na tarde de quarta-feira (26), em Teresina.
Ele tinha 64 anos e era diabético. Também enfrentou graves problemas hepáticos. Faleceu vítima de um infarto.
O profissional dedicou mais de quatro décadas ao fotojornalismo no Piauí e cobriu os principais acontecimentos do Estado nesse período.
Wagner Santos iniciou-se na profissão no começo dos anos 1980, um pouco antes de mim.
Quando dei os primeiros passos no jornalismo, já o encontrei na redação do jornal O DIA, onde trabalhavam também os repórteres-fotográficos Feitosinha e Soares.
À época, o Carivaldo Marques, que também fez nome no fotojornalismo, já havia assumido cargo de direção no jornal e dirigia também a Gráfica e Editora Júnior.
Pouco tempo depois, com a fundação do Jornal da Manhã, pelos irmãos Jesus e José Elias Tajra, Wagner Santos e vários outros profissionais de O DIA se transferiram para o novo jornal.
Posteriormente, Wagner foi trabalhar no Diário do Povo, onde ficou até se aposentar, consolidando sua trajetória como um dos nomes de referência na cobertura fotográfica.
A foto da capa
Trabalhos juntos no Diário do Povo por 16 anos, de 2000 a 2016, quando o jornal foi vendido. Ele foi sempre um profissional dedicado, prestativo e bom companheiro.
Era o fotógrafo do turno da tarde. Pela manhã, a redação contava com o Francisco Gilásio, outro grande profissional.
A cobertura fotográfica funcionou assim até que passamos a contar com o reforço do Renato Bezerra.
Era do Wagner que eu, como editor-chefe, cobrava a foto da capa do jornal, todos os dias, no fim da tarde. Às vezes havia uma boa foto; às vezes, não. Tivemos muitos embates por conta disso.
Trago dois episódios para ilustrar essa relação.
Enterrado em pé
Em 26 de outubro de 2005, morreu o ex-deputado estadual Humberto Reis da Silveira, que passou 50 anos seguidos com mandato parlamentar, caso único na América Latina.
O ex-deputado havia dito à família que seu último desejo era o de ser sepultado na vertical, em pé, pois jamais havia se dobrado aos poderosos durante sua longa carreira política.
O desejo foi cumprido. O Wagner estava no cemitério São José na hora do sepultamento, no final da tarde do dia seguinte, fazendo a cobertura.
Quando perguntei pela foto do homem sendo enterrado em pé, para colocar na primeira página, o Wagner não a tinha feito. Aí quem quase teve um troço fui eu.
Sucessão de 2002
Mais adiante, quando começaram as especulações sobre as eleições estaduais de 2002, o nome do prefeito Firmino Filho era dado como certo para sair como candidato à sucessão do governador Mão Santa.
A crônica política, os programas de TV e os políticos só falavam disso. Firmino dava corda, acenando com a possibilidade de deixar a Prefeitura e sair candidato.
O PMDB, que havia indicado o ex-vereador Marcos Silva como vice-prefeito, coçava as mãos para assumir a Prefeitura.
No dia 3 de abril de 2002, o prefeito fez uma reunião política reservada, com uns poucos convidados, no Gabinete do Palácio Verde, no Parque da Cidade, onde despachava com frequência.
Nesse encontro, Firmino comunicou ao fechado grupo que não seria candidato a governador. A decisão estava tomada.
Um dos presentes à reunião me passou a informação e na mesma hora decidi que ela seria a manchete do jornal, no dia seguinte.
Pedi ao Wagner que ele procurasse uma foto do prefeito em pé, de costas, parecida com aquela do presidente Jânio Quadros à véspera da renúncia.
O Wagner me trouxe a foto e demos a manchete, com uma matéria assinada por mim: “Firmino abandona a candidatura”. No outro dia cedo, o mundo político estava em polvorosa.
A primeira ligação que recebi foi do governador Mão Santa, perguntando que história era aquela. Confirmei a informação.
O prefeito ficou amuado com o vazamento da informação antes de conversar com o governador.
E nós colecionamos mais esse furo na imprensa local, com manchete ilustrada com uma foto do Wagner Santos.
Avalio que foi a melhor capa que fizemos no jornal.
Vivemos muitos outros momentos como esse.
É com essas lembranças que me despeço do velho e querido colega de jornada, um espírito sempre fraterno, clamando ao Senhor da Vida que acolha sua alma em sua morada de misericórdia!
Siga em paz, companheiro!

A capa do Diário com foto de Wagner Santos