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27 de março de 2025Hoje (26/03) faz dez anos do silêncio do poeta Hardi Filho. Tive o privilégio de conhecer sua obra e conviver por longos anos com sua figura humana admirável.
A definição precisa de Hardi Filho saiu da pena irretocável do escritor e crítico literário Herculano Moraes. Em síntese, é esta:
“Poeta de fina sensibilidade, clássico na forma, romântico na essência e simbolista no fundo. A exegese de sua poética repousa precisamente na comunicação epidérmica de suas mensagens. Um dos maiores artesãos da palavra desta geração de escritores utilizando como instrumental a imagem tradicionalista revestida de essência nova e transcendente. Ele chega a resumir a última glória de uma poesia efetivamente compromissada com os estados interiores da alma”.
Hardi, Herculano, Francisco Miguel de Moura, Osvaldo Lemos e outros jovens idealistas da época fundaram, no final dos anos 1960, em Teresina, o Círculo Literário Piauiense, o CLIP, ativo núcleo de intelectuais que marcou a cena cultural de Teresina por mais de duas décadas.
O poeta Hardi Filho completou a sua missão em 26 de março de 2015. Tinha 81 anos e estava internado havia mais de uma semana, com problemas decorrentes de pneumonia.
Além de poeta, era também jornalista, ensaísta e funcionário público federal aposentado (servidor do Ibama).
Intelectual do Ano
Hardi se notabilizou como exímio sonetista, com linguem simples, musical e técnica apurada. Publicou vários livros, alguns deles adotados nos vestibulares, quando a Literatura Piauiense era cobrada nesses concursos.
Ele nasceu em Fortaleza, mas veio para Teresina ainda moço, para implantar o antigo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), hoje Ibama.
Com uma atuação marcante na vida cultural do Piauí, ele pertenceu à União Brasileira de Escritores (UBE), Seção do Piauí, e recebeu em 1996 o título de “Intelectual do Ano”.
Ocupava a Cadeira 21 da Academia Piauiense de Letras.
Integrou o Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Colaborou em verso e prosa em revistas, jornais e livros do Piauí e de outros Estados, a partir da década de 1960.
Obra completa
O legado literário de Hardi Filho é constituído de uma vasta obra, construída com rara sensibilidade poética no decorrer de uma longa carreira.
Ao longo de sua luminosa trajetória literária, publicou os livros Cinzas e Orvalhos (1964); Gruta Iluminada (1971); Poesia e Dor – Ensaio sobre Celso Pinheiro, poeta piauiense (1974); Poesias de Desencanto e de Amor (1983); Teoria do Simples (1986); Cantovia (1986); Poesia e Dor no Simbolismo de Celso Pinheiro (1987); Suicídio do Tempo (1991); Oliveira Neto – Ensaios (1994); Estação 14 (1997); Veneno das Horas (2000); O Dedo do Homem (2000), entre outros.
A Academia Piauiense de Letras publicou, postumamente, pela Coleção Centenário, seu livro de crônicas Dia Rio.
O poeta vive!
Pelo conjunto da obra, pelo seu modo particular de interpretar, traduzir e expressar os sentimentos mais profundos em linguagem clara, chamei-o de “poeta do simples”, na crônica de saudade sobre o seu silêncio, publicada há dez anos. Como sabem, é difícil escrever fácil.
O poeta contempla o tempo e o vento, em concreto armado, em uma estátua que seu amigo e poeta Ozildo Batista de Barros mandou o artista Benedito de Deus Nunes esculpir, em sua memória, e plantou entre as elegantes carnaubeiras de sua chácara Falecido Amor, em Sussuapara, chão tantas vezes pisado por Hardi.
Ao lado da esplêndida obra literária, o poeta deixou ainda o exemplo de homem bom, simples, sereno, decente e afável, que faz muita falta a Adélia, a toda a sua família, à Academia Piauiense de Letras e aos seus amigos e leitores.
Por isso também vive na saudade de todos.

Estátua do poeta Hardi Filho/Imagem: Ozildo Batista de Barros