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Teresina – nomes que se perderam

Praça Pedro II (antiga Praça Aquidabã)/Imagem: Arquivo Público Estadual.

Teresina, como se sabe, foi batizada com este nome numa puxada de saco provincial. José Antônio Saraiva, presidente da Província, para tocar o coração do imperador Pedro II, no sentido de angariar a sua simpatia para a transferência da capital do Piauí, da então centenária Oeiras para a Vila Nova do Poti, na Chapada do Corisco, em 1852, meteu o nome da imperatriz Teresa Cristina no da nascente cidade.

Desde então, o Piauí não perdeu a mania de bajular figurões dando seus nomes a municípios e logradouros públicos.

Nessa ânsia desenfreada de homenagear essas personalidades – alguns ainda vivinhos da silva – muitas vezes com justiça e outras tantas nem tanto, desandaram a passar por cima dos nomes antigos do lugar, dados pelo povo.

Há 50 anos, o professor A. Tito Filho, o cronista da cidade, publicou em seu livro Teresina – Ruas, Praças e Avenidas os perfis dos homenageados com os nomes de logradouros.

Dez anos depois, o cronista, cujo centenário de nascimento será celebrado em outubro pela Academia Piauiense de Letras, mapeou os logradouros de nomes antigos do centro histórico de Teresina.

Em agosto de 2017, escrevi crônica para a revista Cidade Verde e acrescentei outros nomes à lista de A. Tito Filho, recorrendo então à memória nonagenária, mas lúcida e prodigiosa, do mestre M. Paulo Nunes, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura.

Eis a relação, com os nomes atuais entre parênteses:

Largo do Amparo (Praça Marechal Deodoro da Fonseca. Foi também Praça do Palácio, em alusão ao antigo Palácio do Governo, ali localizado, no prédio que abriga atualmente o Museu do Piauí; Praça da Constituição e Praça da Bandeira);

Rua Grande (Álvaro Mendes, por muitas décadas a maior rua da capital);

Rua do Amparo (Areolino de Abreu);

Rua dos Negros (Eliseu Martins);

Rua do Fio (Coelho Rodrigues);

Rua Bela (Teodoro Pacheco);

Baixa da Égua (Praça Landri Sales. Também se chamou Largo do Paço, da Nação e, seguidamente, Praça 15 de Novembro e Praça do Liceu – batismo popular);

Rua São José (Félix Pacheco);

Rua da Glória (Lisandro Nogueira);

Rua da Estrela (Desembargador Freitas – em 1939, ao trecho entre a Praça Landri Sales e a atual Avenida Maranhão, foi dado o nome de Humberto de Campos. Tal denominação foi revogada em 1976).

Estrada Nova (Rui Barbosa);

Praça Uruguaiana (Praça Rio Branco. Foi chamada também de Praça do Comércio);

Praça da República (João Luís Ferreira. Foi chamada também de Praça Padre Marcos);

Praça Aquidabã (Praça Pedro II. Recebeu também as denominações de Praça da Independência e Praça João Pessoa);

Avenida Getúlio Vargas (inicialmente, Avenida Frei Serafim. Voltou à primeira denominação);

Rua do Norte (Jonathas Batista);

Praça Campo de Marte (Praça João Gaioso, mais conhecida como Praça do Verdão. Nomes anteriores: Praça da Santa Casa, Praça Conde D’Eu, Praça 13 de Março e Praça Engenheiro Arêa Leão);

Avenida Circular (Avenida Miguel Rosa – Joaquim Ribeiro);

Rua do Barrocão (Avenida José dos Santos e Silva);

Rua da Palmeirinha (Clodoaldo Freitas, chamada primitivamente de Rua do Fogo);

A restauração dos nomes antigos de ruas de Teresina chegou a ser sugerida por Carlos Castelo branco, um de seus filhos mais ilustres e também o mais influente jornalista político brasileiro de sua geração, em seu discurso de posse na Academia Piauiense de Letras, em 26 de setembro de 1984.

Em crônica de saudade, ele rememorou a Teresina de seu tempo:

Os limites da cidade para nós (…) iam da Rua da Estrela à Rua São José, passando pelas Ruas da Glória, do Amparo, dos Negros, do Fio, Rua Grande, Rua Bela e Paissandu – belos nomes que a Academia poderia fixar na memória urbana, fazendo-os inscrever em placas sem suprimir homenagem atual a ilustres piauienses. Bastaria inscrever aqueles nomes sob as placas para que renascesse um sopro de poesia vindo das funduras do passado”.

Uma sugestão que a cidade ainda não teve a sensibilidade de abraçar.

Há alguns anos, a Câmara Municipal de Teresina aprovou projeto do vereador Inácio Carvalho, transformado em lei, acolhendo a ideia de Carlos Castello Branco.

Mas até agora essa lei não passou de letra morta!  

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