
O FOQUINHA 11 – A visita do arcebispo
12 de outubro de 2025O Foquinha 12 – As visitas do repórter do ‘Le Monde’ e de Lula
O anúncio da visita de Lula a Água Branca/Imagem: Reprodução
Bem, nessas memórias que venho tecendo aos domingos, sobre meus primeiros passos no jornalismo, há 45 anos, estou para entrar em uma redação profissional, a do jornal O DIA.
Antes, preciso contar mais dois episódios que se passaram durante o primeiro ano do jornal O Águia, que nosso grupo de jovens editava em Água Branca.
O primeiro é o seguinte: em 1980, o Nordeste brasileiro era castigado por mais uma seca terrível. Ela começou no ano anterior e se prolongou até 1983.
Um jornalista do jornal Le Monde veio ao Brasil para produzir uma reportagem sobre essa nova estiagem.
Na viagem de trabalho ao Nordeste, o repórter passou por Água Branca. Ele havia apurado que o vigário local, padre João Batista Gougeon, era francês.
Na reportagem que publicou, dias depois, citou o nosso jornal como um veículo que buscava a conscientização da comunidade.
Jamais esperaríamos que o nome de nosso modesto jornalzinho viesse a sair no Le Monde, fundado em 1944, mas que nem conhecíamos, apesar de ser um dos jornais mais influentes da França e da Europa.
Domingo azul
O fato, porém, é que, sem que nos déssemos conta, nosso trabalho alcançava repercussão muito além de nossa cidade.
E foi assim que, na manhã de 31 de agosto de 1980, um domingo azul, como na canção de Alceu Valença, recebemos na sede de nosso grupo de jovens um grupo de barbudos, vestindo camisetas de algodão brancas.
À frente do grupo estava Luiz Inácio da Silva, o Lula. À época, ele era o sindicalista mais conhecido do Brasil e andava pelo interior do país na campanha de fundação do Partido dos Trabalhadores.
Na noite de sábado, durante nossa reunião quinzenal, recebemos a informação de que Lula gostaria de nos visitar.
Ele fora informado de que éramos ligados à Igreja Católica e editávamos um jornalzinho mimeografado – O Águia – que fazia muito sucesso na cidade.
O aviso nos foi levado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Manoel Eduardo de Sousa, o Nezim.
A visita
Quando Lula chegou à sede do grupo de jovens, por volta das 9 horas, ainda havia muito papel espalhado pelo chão.
A edição, de 200 exemplares mimeografados, acabara de sair, depois de virarmos mais uma noite na produção do jornalzinho, que era quinzenal.
Lula recebeu em primeira mão justamente a edição de número 13!
Ele sentou, conversou rapidamente com os jovens, informado que em São Paulo também passava por aquele tipo de experiência e garantiu que a luta valia a pena.
Lula não tocou em PT, mas enfatizou que o futuro do Brasil estava nas mãos dos trabalhadores e dos jovens. Tudo dependia apenas de conscientização e de organização.
A comitiva, que vinha de Floriano, em direção a Teresina e Campo Maior, era composta ainda pelo professor Antônio José Medeiros, o jornalista Roberto John, o cartunista Albert Piauí e os advogados Acilino Ribeiro e Lawrence Raulino, entre outros.
Da sede do grupo de jovens, foi a pé até a praça do mercado velho, a alguns quarteirões.
Lá, diante dos frequentadores da feira, ele fez o ato público de lançamento do PT em Água Branca.

