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Álvaro Pacheco, poeta maior

Álvaro Pacheco e o autor, em sua residência, na Estrada da Joatinga, no Rio/Imagem: Regina Franco Tavares, 2015.

(Publicado em 30/11/2025)

A poesia brasileira perdia, no último dia 21/11, um de seus nomes mais expressivos: Álvaro Pacheco.

Piauiense de Jaicós, onde nasceu em 1933, ele silenciou aos 92 anos, no Rio de Janeiro.

Ele morava no Rio desde 1959 e lá fez toda a sua bem-sucedida carreira profissional como jornalista, poeta, advogado e empresário.

Desde o início da década de 1990, eu mantinha com ele regular correspondência, chegando a visitá-lo algumas vezes em Brasília, quando foi senador, e no Rio.

Há alguns anos essa correspondência foi interrompida, em função do mal de Alzheimer do qual o poeta foi acometido.

O poeta Álvaro Pacheco foi o patrono do Salipi 2016.

Ele não pode comparecer ao evento e registrei a homenagem dos conterrâneos através desta crônica publicada na revista Cidade Verde, em 26 de junho de 2016:

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O homem e o poeta

Ele cumpriu a sina de muitos meninos sertanejos que, naqueles tempos de grande atraso, deixavam de coração partido o lar paterno, querido e pobre, no interior, com o sonho de ganhar o mundo.

Na capital, foi generosamente acolhido por parentes abastados que puseram em suas mãos as chaves do conhecimento.

Um deles, em particular, orgulho maior da família e, depois, do Piauí, marcou indelevelmente sua alma e influenciou de modo decisivo a sua formação cultural e humana.

O homem era seu tio e, em sua biblioteca particular, imensa e eclética, às vezes até furtivamente, o menino familiarizou-se, no início da adolescência, com Anatole France, Balzac, Victor Hugo, Jean Anouilh, Lamartine. Conheceu D. Quixote e Romeu e Julieta

Ainda aluno do Velho Liceu, plasmava com a leitura dos clássicos da literatura universal o espírito literário que o revelaria mais tarde um dos mais inspirados e mais fecundos poetas brasileiros de seu tempo.

Tio e sobrinho

O homem e o poeta são, respectivamente, o jurista Cláudio Pacheco e o poeta Álvaro Pacheco, dois ícones da Academia Piauiense de Letras.

O primeiro escreveu, pacientemente, durante 15 longos anos, em 14 volumes, o monumental Tratado das Constituições Brasileiras, o mais completo estudo comparativo de Direito Constitucional jamais realizado no Brasil, sempre atualizado e que, no fim da vida longeva, adaptou à Constituição de 1988.

Outra obra de fôlego de sua autoria é a Histórica do Banco do Brasil, em 8 volumes, trabalho que é a própria história da economia brasileira por mais de um século e meio.

E ainda publicou o romance As pedras ficaram magras, editado no Rio de Janeiro.

A obra de Álvaro Pacheco

O segundo reuniu sua obra poética em 16 livros: Os Instantes e os Gestos (1958); Pasto da Solidão (1965); Margem, Rio, Mundo (1966); O Sonho dos Cavalos Selvagens (1967); A Força Humana (1970) e A Matéria do Sonho (1971).

Mais: Tempo Integral (1973); O Homem de Pedra (1975); Itinerários (1983); Seleção de Poemas (1984) e Balada do Nadador do Infinito (1984).

E ainda: A Geometria dos Ventos (1992); Tryptique Pour Vang Gogh (1994); Solstício de Inverno (1998); A Balada e Outros Poemas (2001) e Epifania das Estrelas para Galileu Galilei (2002).

Prêmios e homenagens

Em 1985, o poeta foi agraciado com o Prêmio Nacional de Literatura do Pen Clube do Brasil, por seu livro Balada do Nadador do Infinito.

Em 2002, recebeu da União Brasileira de Escritores (UBE) o Prêmio Cecília Meireles de Poesia, pela antologia A Balada e Outros Poemas.

Álvaro Pacheco foi o homenageado do Salão do Livro do Piauí – Salipi 2016. Não pode estar presente para receber e agradecer as homenagens.

Durante o evento, recuperando-se de uma cirurgia no ombro, após uma queda, ele seguia a rigorosa recomendação médica de passar pelo menos três semanas sem viajar de avião.

O exílio

No Rio, que lhe abriu as portas para o sucesso, como jornalista, advogado, poeta, editor e distribuidor cinematográfico, um dos principais do país, ele cumpre aos 84 anos um exílio iniciado em 1955.

Mas o Piauí não saiu de sua alma nem de seus versos, como ele mesmo confessa:

A poesia fez-me, cada vez mais, olhar para o passado, vasculhar a memória das emoções e dos deslumbramentos e querer e querer e querer a minha terra e as minhas origens”.

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